tag . 🇧🇷 Literatura Brasileira

Exibindo página 2 de 32

paixão por uma língua

Gabriela Gomes

nenhuma paixão
por uma língua
é tão forte
quanto
àquela
que te faz
parir
em outra
terra


In: Gabriela Gomes, Língua-mãe, Porto, ed. Fresca

 


Gabriela Gomes

Ensaio sobre o ingovernável

Kilian Glasner

Inquieto, angustiado – cabeça de tempestade, Kilian Glasner repete A Grande Onda de Kanagawa(1), homenagem em pastel e pigmento puro. “O desenho das ondas é uma espécie de versão divinizada do mar, feita por um artista que viveu o terror religioso do oceano avassalador que cercava completamente seu país, impressiona pela fúria repentina de seu salto ao céu, pelo azul profundo do lado interior de sua curvatura, pelo respingo de sua crista que espalha um orvalho de pequenas gotas”.

(1) Hokusai, Katsushika. “A Grande Onda de Kanagawa.” Século XIX, Ukiyo-e, Museu Metropolitano de Arte, Nova York.

A análise sobre a obra de Hokusai é de Edmont de Goncourt, de meados dos anos 1850. O desenho das ondas é uma espécie de versão divinizada do mar, feita por um artista que viveu o terror religioso do oceano avassalador que cercava completamente seu país… e se as palavras voltassem emprestadas a novos significados?

Mais de 170 anos depois, Kilian se isola no mar. Pesquisa a oscilação das águas, o humor das marés. De dentro assiste outras tempestades, ansiedade, insegurança, aflição. Ninguém previu: nem bússolas, nem birutas ou mapas meteorológicos… é neste cenário que surge “ensaio sobre o ingovernável”.

Antes seria evitável, mas alguém escutou a tempestade? Desde então, o pantanal queimou, as marés subiram, a lama caiu sobre o litoral e, todos nós, que ensurdecemos em nossa arrogância, caímos juntos.

E “por que nos causa desconforto a sensação de estar caindo? A gente não fez outra coisa nos últimos tempos senão despencar. Cair, cair, cair. Então por que estamos grilados agora com a queda? ”

perguntaria Ailton Krenak em seu Ideias para adiar o fim do mundo. Pág. 14 – Companhia das Letras


Texto de Paulo Kassab Jr.


Kilian Glasner 🇧🇷 (1977-) nasceu, vive e trabalha em Recife, Brasil. Ganhou seu primeiro prêmio aos 21 anos no Salão de Artes Visuais de Pernambuco. Se mudou para Paris onde se graduou na ecole des Beaux Arts. Foi aluno de Giuseppe Penone e expôs em Paris, Londres, Itália, Bélgica e Holanda. Ganhou o prêmio Rumos Visuais do Instituto Itaú Cultural com a instalação “Rua do Futuro”. Foi convidado pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa para realizar a enorme instalação “O Brilhante futuro da cana-de-açúcar”.

Não há matéria para se fazer a tristeza

Eucanaã Ferraz

Não há matéria para se fazer a tristeza
nessa manhã, manhã perfeita
se a mão que me deu maio fosse a tua.


In: Eucanaã Ferraz, Cinemateca, ed. Companhia das Letras


Eucanaã Ferraz 🇧🇷 (1961-) é um poeta nascido no Rio de Janeiro, publicou, entre outros, os livros de poemas Desassombro, Rua do mundo, Cinemateca, Sentimental e Escuta e para o público infanto-juvenil, Poemas da Iara, Bicho de sete cabeças e outros seres fantásticos, Palhaço, macaco, passarinho. É professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.