🎨 Arte Visual

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Enfin seule!

Jean-Louis Forain

“Sometimes the remembrance in tranquility is better than the event.”
Wordsworth

Ahh! Estar sozinha – existe algo mais doce no mundo? Bom, há coisas melhores… Mas, estar sozinha, ficar sozinha é um presente precioso às vezes. Por isso que a aquarela “Enfin seule!”  (1890) de Jean-Louis Forain do Musée d’Orsay me atrai. A aquarela mostra uma mulher tranquila em ambiente intimista, vestida com roupas íntimas e meias pretas, recostada na cama com os pés para cima, fumando um cigarro, em devaneios. O estilo combina com o clima despreocupado, é tão vago que parece mais um esboço do que uma pintura devidamente acabada. A paleta de cores é simples, além do cinza e do preto, o roxo e o marrom-amarelado dos cabelos. O uso da cor nas fases preliminares é comum na obra de Forain. Adoro como a fumaça do cigarro é desenhada a caneta. A obra também mostra domínio do manuseio da caneta e aquarela. Liberdade e rapidez de execução bem como o encurtamento bem sucedido do corpo a demonstrar a precisão da observação de Forain e sua capacidade de transcrever, com um grande economia de meios, uma imagem complexa.

Uma citação do diário de Anais Nin:

“Quero fugir só para ficar a sós com meus sentimentos por você”

Forain in Le Courrier Francais


Jean-Louis Forain 🇫🇷 (1852-1931) foi um pintor e gravador impressionista francês, trabalhando em mídias que incluem óleos, aquarela, pastel, água-forte e litografia. Comparado com muitos dos seus colegas impressionistas, ele teve mais sucesso durante a sua vida, mas sua reputação hoje é muito menos exaltada.

A História da Mãe

Hans Christian Andersen + Kay Nielsen

“A História da Mãe”, um conto fantástico de Hans Christian Andersen, traz uma mãe que ao cuidar exaustivamente do seu filho doente, fecha os olhos por um momento e ao abri-los descobre que a criança desapareceu, levada pela Morte. Desesperada a mãe pede à Noite que lhe diga para onde foi a Morte, pois ela quer buscar seu filho de volta. Primeiro ela deve cantar para a Noite todas as canções que cantava para o filho. A mãe sai na noite gelada em busca do lugar onde mora a Morte. O cenário gélido do conto parece perfeito para a ilustração de Kay Nielsen, que mostra o momento em que a mãe acolhe um espinheiro que pode ajudá-la, em troca de seu calor. A mãe está disposta a tudo para encontrar seu filho roubado.

“Então a mãe chorou e cantou e torceu as mãos. Houve muitas canções, e ainda muito mais lágrimas até que finalmente a Noite dissesse: “Vá à direita, pela escura floresta de abetos, vi lá a Morte seguir com seu filhinho”

 

“Na floresta, a mãe cruzou uma estrada e não sabia qual caminho seguir. Perto havia um espinheiro; sem folhas nem flores, rigoroso o  inverno, com pingentes de gelo pelos galhos. “Viste a Morte passar com meu menino?” perguntou a pobre mãe ao espinheiro.

“Sim”, respondeu ele; “mas não lhe direi que caminho a Morte tomou até que você me aqueça em seu seio. Estou morrendo de frio, sem seu calor vou virar gelo…”

Então ela apertou bem o espinheiro contra o próprio peito, para que o pudesse descongelar. Os espinhos perfuraram a carne, grossas gotas de sangue caíam, mas do espinheiro brotaram folhas verdes e frescas que  aos poucos, se transformavam em flores na noite fria de inverno, tão quente é o coração de uma mãe triste!

Só então o espinheiro revelou à mãe enlutada qual o caminho ela deveria seguir para encontrar a Morte e o filho.”

A ilustração do conto me pareceu comovente. A delicadeza, a elegância, a força do vento nas dobras do vestido negro, a curva certa do corpo, a árvore retorcida, as flores tão alvas, a lua ao longe, tudo me lembra arte japonesa, e também alguns desenhos do Egon Schiele. A simplicidade da cena ajuda a enfatizar a sua profundidade emocional. O rosto pálido e conformado da mãe revela a dor e o tormento que ela sente. As sombras dos olhos são de todas as noites mal dormidas. Ela está de luto, vestida de preto como a Noite e a própria Morte. Se nos concentrarmos, dá até para sentir o frio pontilhado no ar. A nitidez dos galhos que ela pressiona contra o peito também fere quem os vê. O sangue caindo na neve, o horizonte cinza. As flores brancas são estranhas no meio do inverno, mas como conta o conto, isso é comovente, as flores só cresceram porque o amor da mãe era tão forte que seu coração exalava calor para brotar outra forma de vida.


Hans Christian Andersen 🇩🇰 (1805-1875) foi um autor dinamarquês. Embora seja um escritor prolífico de peças, relatos de viagem, romances e poemas, ele é mais lembrado por seus contos de fadas. Os contos de fadas de Andersen, compostos por 156 histórias em nove volumes, foram traduzidos para mais de 125 idiomas.


Kay Nielsen 🇩🇰 (1886-1957) foi um ilustrador dinamarquês popular no início do século 20, a Idade de Ouro da Ilustração, que durou desde quando Daniel Vierge e outros pioneiros desenvolveram a tecnologia de impressão até o ponto em que desenhos e pinturas podiam ser reproduzidos com facilidade razoável.

Girassol, de Schiele

Egon Schiele

SUNFLOWER
1908
44 × 33 cm
Niederösterreichisches Landesmuseum, St. Polten

Schiele nunca esteve interessado na replicação real da aparência em sua arte e isso é perceptível em suas sucessivas representações de girassóis. Schiele estaria muito familiarizado com este tema que, claro, já tinha sido muito explorado por Van Gogh, e esta é a primeira imagem conhecida nesta série em particular. É certamente derivado da tradição decorativa da Secessão, mas acrescenta algo pessoal e distinto. Todo o plano superior da tela é ocupado pela flor e, apesar da maturidade e da cor abundante, o girassol também está à beira da morte. Embora a flor e a presença das sementes sugiram juventude e energia, a implicação é que a vida segue a morte que, por sua vez, segue a vida novamente. O padrão da linha é bastante óbvio, pois as folhas sugerem um plano horizontal, enquanto o caule fornece a vertical. Isto torna-o um trabalho bastante juvenil, e não totalmente alcançado espacialmente, mas os temas que se tornariam predominantes na sua obra restante já estão muito em evidência, com foco nos ciclos de vida e morte e nas proporções distorcidas e inesperadas do próprio tema.


Egon Schiele 🇦🇹 (1890-1918)  foi um pintor austríaco ligado ao movimento expressionista. Um protegido de Gustav Klimt, foi um pintor importante do início do século XX. Seu trabalho é célebre por sua intensidade e sua sexualidade crua, e pelos muitos autorretratos que produziu, incluindo autorretratos nus.