George Steiner, crítico que Roberto Bolaño admirava, propôs como emblema da imbricação entre cultura e barbárie a imagem do funcionário nazista que, durante o dia, trabalha num campo de extermínio e, à noite, recolhe-se aos seus aposentos para ler Goethe ou escutar Bach. Bolaño, que sabia que o nazismo, embora derrotado em 1945, talvez jamais desaparecesse do mundo, publicou em 1996 um livro no qual transpunha da Europa a seu continente natal a constatação de Steiner: A literatura nazista na América era o seu título.

“O trato com os livros exige certo sedentarismo,
certo nível indispensável de aburguesamento.”

No último capítulo, resumia, em poucas páginas, a história do infame Ramírez Hoffman, poeta de vanguarda e torturador a serviço do governo Pinochet. Na novela Estrela distante, retomou, com fôlego mais amplo, a figura de Hoffman, que então se chama Carlos Wieder – em alemão, “outra vez”: modo de nomear a persistência do nazismo como eterno retorno ou compulsão à repetição, “mal absoluto” (isto é, recorrente, perpétuo, infernal) sempre a nos ameaçar.


Roberto Bolaño 🇨🇱 (1953—2003) foi um escritor chileno, nascido em Santiago do Chile ganhador do Prémio Rómulo Gallegos por seu romance Os Detetives Selvagens, que ele descreveu como uma carta de despedida à sua geração. Considerado por seus pares o mais importante autor latino-americano de sua geração. O romance póstumo 2666 é considerado sua obra máxima, tendo sido altamente aclamado pela crítica especializada desde então.