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Zero

Ignácio de Loyola Brandão

Romance de cunho grotesco, no qual José e Rosa, o casal protagonista, nutrem um pelo outro um sentimento de desdém, no qual, ao mesmo tempo em que se enojam, são fisgados por um desejo descomunal em suas noites de prazer. Em meio a um cenário social recheado de aberrações (que trabalham no circo da cidade), entregam-se a uma rotina de tapas e beijos.

Minha edição é de 1986, da Editora Clube do Livro, comprada em sebo, pela Estante Virtual.

Zero é, sem dúvidas, um grande livro. Primeiro porque consegue trazer as questões de um país imerso em uma ditadura militar sem parecer piegas ou clichê. Ignácio de Loyola Brandão consegue ironizar situações cotidianas de forma maestral. O autor escreve com a frieza e a falta de pudor necessária para se falar de sexo, tortura e repressão. Mesmo sem mencionar que ambientava seu romance na São Paulo dominada pelos militares, é possível notar graças às constates ordens e Atos institucionais proclamados pelos militares; atos institucionais por vezes sarcásticos e hiperbólicos. A narrativa é interrompida por sons, barulhos, falas e imagens.

Um grande atrativo é também a sua disposição de capítulos; sendo o layout uma atração a parte. Ignácio coloca notas de rodapé com inscrições irônicas e muito bem humoradas.


Premiação

O autor ganhou em 2016 o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra.

Em Câmara Lenta

Renato Tapajós

Uma crítica, uma auto-crítica, imaginação e arte a serviço da compreensão da realidade muito próxima do nosso tempo e da nossa vida pessoal. Em Câmara Lenta é, como diz o autor, “uma reflexão emocionada, porque tenta captar a tensão, o clima, as esperanças imensas, o ódio, e o desespero” que marcaram uma tentativa política desesperada e extrema em nosso país: um romance a respeito da ingênua generosidade daqueles que jogaram tudo, inclusive a vida, na tentativa de mudar o mundo.

A obra “Em Câmara Lenta” de Renato Tapajós vem somar-se à linha dos romances modernos que descortinaram a estrutura clássica de narrar para dar vazão a uma técnica pautada na vivência interior da personagem e com isso trouxeram para trama literária mais que um enredo, uma transposição do pensamento da personagem. Renato Tapajós consegue adentrar no universo psicológico da ditadura militar quando dá vida a “Ele”, narrador-personagem da obra supracitada, o autor transporta o leitor para os porões deste acontecimento sem deixar que a linha histórica dos fatos reais torne-se mote para sua escrita. Mais que narrar a história, o autor embrenha-se no emaranhado dos pensamentos das personagens na busca por relatar os anseios, paixões e dores da luta armada.

Cita a morte de Lamarca (p. 55)

anotações:

fragmentação da narrativa como reflexo do fluxo de pensamento fragmentado


Renato Tapajós (1943-) nasceu em Belém do Pará, é cineasta e escritor. Cursou Ciências Sociais na USP. Ainda durante a faculdade dirigiu os documentários Universidade em crise (1966), Um por cento (1967) e Vila da Barca (1968) – ganhador do prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional do Filme de Leipzig, na Alemanha.

O que é isso, companheiro?

Fernando Gabeira

Em O que é isso, companheiro?, Fernando Gabeira busca compreender o sentido de suas experiências – a luta armada, a militância numa organização clandestina, a prisão, a tortura, o exílio – e elabora um retrato do Brasil dos anos 60 e 70.