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Paranoia

Roberto Piva, Wesley Duke Lee

Publicado em 1963 e esgotado durante um longo tempo, o livro reúne 19 poemas de Roberto Piva e fotografias do artista plástico Wesley Duke Lee. Desde sua primeira edição, Paranoia compõe uma das mais fortes parcerias artísticas que a cidade de São Paulo já inspirou. A última edição, de 2009, conta com prefácio de Davi Arrigucci Jr.


Na época de seu lançamento, Paranoia teve o destino dos livros que nadam contra a corrente. De um lado, por sua índole contestadora, incomodou os críticos mais conservadores. De outro, por seu individualismo anárquico, confrontou a vanguarda literária mais programática na época, o movimento concretista. Em compensação, seus poemas foram cultuados por todos os leitores e artistas receptivos a uma sensibilidade profundamente libertária.

Paranoia é o mais eloquente exemplo da primeira fase da carreira de Piva, na qual o ímpeto para a transgressão talvez seja a característica predominante. Muitas tradições literárias entrecruzam-se nesta obra. Entre elas, vale citar a da meditação andarilha pela cidade, consagrada com Baudelaire e cuja influência varreu o mundo, alcançando a metrópole periférica de Mário de Andrade e do modernismo da primeira geração. Vale registro também o influxo dos poetas beat norte-americanos, com sua apologia do desejo irrefreado, seu destemor diante da alternância entre os registros alto e baixo, sua livre associação de ideias e referências e sua adesão ao escape proporcionado pelas drogas. “Uma visão alucinatória de São Paulo”, foi como Piva definiu seu livro.

São Paulo por Wesley Duke Lee (1963)

Nascido em 1937, Roberto Piva teve seus primeiros poemas reunidos na “Antologia dos Novíssimos”, em 1961. Depois vieram oito livros de poesias, sendo “Paranoia”, de 1963, um dos mais conhecidos. Em 2000, o Instituto Moreira Salles relançou a obra, ilustrada com fotografias de Duke Lee, que, em 2009 ganhou nova edição.

O volume resulta em um alinhamento perfeito entre os poemas delirantes e as imagens caóticas. Piva transporta o lirismo paulistano para versos soltos, longos, sem métrica, rimas ou regularidades. Já no começo da década de 1960, fala de homossexualismo, marginalidade e desigualdade social. Descreve cenas e pensamentos desconexos que parecem se encontrar no caos urbano, fugindo do concretismo que marcava a época.

por Wesley Duke Lee (1963)

As passagens são pontuadas por referências à metrópole — que, mais do que mera referência espacial, parece ser parte ativa desses sentimentos e fatos. Diz: “na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha alma”. Ou ainda “meus êxtases não admitindo mais o calor das mãos e o brilho/ platônico dos postes da rua Aurora comichando nas omoplatas/ irreais do meu Delírio”.

por Wesley Duke Lee (1963)


Roberto Lopes Piva 🇧🇷 (1937) poeta polêmico nascido em São Paulo, figura ativa no meio cultural paulistano desde a juventude, quando começou a publicar versos contra os meios de repressão ao indivíduo, desde o político-ideológico até o sexual. Colaborador em vários jornais da imprensa alternativa, como o Patata ou o Versus, escreveu também para revistas como a Singular e Plural e a Rolling Stones.

Eles eram muitos cavalos

Luiz Ruffato

O título foi retirado do poema “Dos Cavalos da Inconfidência“, de Cecília Meireles, e não poderia ser mais pertinente para descrever São Paulo, a cidade das luzes e escuridões do Brasil. Lançado originalmente em 2001, o romance Eles eram muitos cavalos tornou seu autor num grande sucesso de público e crítica. Com uma voz literária original e arrebatadora, Luiz Ruffato retrata um dia na vida de São Paulo, combinando recursos de sua formação jornalística a inovações formais e estéticas. O romance, que chega neste relançamento à sua 11ª- edição, seria ainda vencedor dos prêmios APCA e Machado de Assis. Considerado pelo jornal O Globo um dos dez melhores livros de ficção da década.

O nove de maio de 2000 é um dia qualquer em São Paulo. Os habitantes seguem realizando pequenos e grandes feitos cotidianos, protagonistas de uma narrativa subterrânea, que representa, ao fim e ao cabo, o próprio tecido da cidade. Para captar essa polifonia urbana, Ruffato estruturou seu romance em 69 episódios, cada qual com registro e fôlego próprios, alternando entre poesia, discurso publicitário, música, teatro e prosa, instantâneos de uma cidade que só se move deixando para trás um rastro de esquecidos. Ao jogar luz sobre esses anônimos, o autor iluminou também as circunstâncias em que eles se confrontam, em atos que se alternam entre a solidariedade e a frieza. Eles eram muitos cavalos ainda é um retrato atual e doloroso da vida na grande cidade.


Luiz Ruffato 🇧🇷 (1961-) é um escritor brasileiro nascido em Cataguases, Minas Gerais. Seu romance Eles eram muitos cavalos, de 2001, ganhou o Troféu APCA oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. Em 2011, com a publicação do romance Domingos Sem Deus, concluiu a pentalogia Inferno Provisório, Estive em Lisboa e lembrei de você e outros. Ruffato foi o organizador da antologia Nos Idos de Março, e vem se pautando pela denúncia dos males nacionais em seus livros atuais. Organizou também a antologia Fora da Ordem e do Progresso.

Zero

Ignácio de Loyola Brandão

Romance de cunho grotesco, no qual José e Rosa, o casal protagonista, nutrem um pelo outro um sentimento de desdém, no qual, ao mesmo tempo em que se enojam, são fisgados por um desejo descomunal em suas noites de prazer. Em meio a um cenário social recheado de aberrações (que trabalham no circo da cidade), entregam-se a uma rotina de tapas e beijos.

Minha edição é de 1986, da Editora Clube do Livro, comprada em sebo, pela Estante Virtual.

Zero é, sem dúvidas, um grande livro. Primeiro porque consegue trazer as questões de um país imerso em uma ditadura militar sem parecer piegas ou clichê. Ignácio de Loyola Brandão consegue ironizar situações cotidianas de forma maestral. O autor escreve com a frieza e a falta de pudor necessária para se falar de sexo, tortura e repressão. Mesmo sem mencionar que ambientava seu romance na São Paulo dominada pelos militares, é possível notar graças às constates ordens e Atos institucionais proclamados pelos militares; atos institucionais por vezes sarcásticos e hiperbólicos. A narrativa é interrompida por sons, barulhos, falas e imagens.

Um grande atrativo é também a sua disposição de capítulos; sendo o layout uma atração a parte. Ignácio coloca notas de rodapé com inscrições irônicas e muito bem humoradas.


Premiação

O autor ganhou em 2016 o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra.